Os Sertões

Dividido em três partes – A Terra, O Homem e A Luta –, o livro ganhou status de obra literária em virtude do estilo apurado e impecável de Euclides da Cunha.

A primeira parte, A Terra, pode ser vista como um estudo geográfico escrito em forma literária. Seguindo os princípios positivistas, o autor descreve de forma minuciosa as características do meio sertanejo. Ao traçar a rota do sudeste, partindo do litoral em direção ao sertão,Euclides da Cunha, com olhar científico, leva o leitor por um árido percurso descritivo.

O vocabulário técnico empregado afastaria essa narrativa da conceituação clássica de literatura. Porém, o estilo empregado pelo narrador dá à obra um ritmo peculiar. Isso se deve à cadência formal (representada pelas construções sintáticas), que imita o movimento de entrada no sertão. Dessa forma, percebe-se uma preocupação estética: o narrador busca, no plano da forma, reproduzir, ou imitar, o conteúdo do texto.

Se a primeira parte se aproxima do estudo geográfico, a segunda (O Homem) pode ser confundida com um texto antropológico. De acordo com a estética naturalista, fortemente amparada pela filosofia de Taine – na qual o homem é determinado pela tríade meio/raça/história –, essa parte representa o aprofundamento de análise da raça sertaneja.

A Luta, terceira parte do livro, narra a batalha entre o litoral desenvolvido e o interior atrasado. A princípio, Euclides da Cunha, que compartilha as idéias do povo litorâneo, enxerga os acontecimentos no arraial de Canudos como uma revolta. No decorrer da narrativa, porém, essa posição se altera gradativamente até a compreensão de que os sertanejos constituíam um povo isolado e, por isso, homogêneo.

Essa homogeneidade se deve a um isolamento histórico provocado pelo esquecimento civilizatório, que os manteve distantes do desenvolvimento litorâneo.

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